Dieta da fertilidade: existem alimentos que ajudam a engravidar?

Dieta da fertilidade: existem alimentos que ajudam a engravidar?

Dieta da fertilidade: existem alimentos que ajudam a engravidar?

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Alimentação e estilo de vida saudável são fundamentais para a saúde do nosso corpo. E para as questões que envolvem a fertilidade este benefício não é diferente! Estes hábitos podem ser aliados na jornada dos casais que buscam realizar o sonho de ter um bebê.

Diversos estudos já demonstraram que o sobrepeso e a obesidade podem influenciar negativamente na fertilidade, tanto em mulheres como homens. Mas, será que existe de fato uma dieta capaz de melhorar ou aumentar a fertilidade?

Se você quer saber sobre a “dieta da fertilidade” e como esta dieta poderia influenciar nas chances de engravidar, você precisa continuar lendo este artigo. Confira!

O que é a dieta da fertilidade?

Diferentes tipos de dietas já foram estudados com o objetivo de verificar o impacto nos resultados do tratamento da infertilidade. E neste contexto, a dieta mediterrânea é a que apresenta os melhores resultados sobre a fertilidade.

A dieta mediterrânea representa a alimentação típica da região do Mar Mediterrâneo (Grécia, Itália, França e sul da Espanha). Tradicionalmente este padrão alimentar está associado à maior expectativa de vida e a redução do risco para doenças cardiovasculares.  Esta dieta é rica em frutas, verduras, legumes, grãos, oleaginosas (nuts – castanhas) e azeite associada a pequena quantidade de vinho tinto e redução do consumo de carne. Em 2010, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) reconheceu a dieta do Mediterrâneo como patrimônio da humanidade.

Pesquisas no mundo inteiro já demonstraram que a dieta mediterrânea está associada a melhora da fertilidade através do aumento da probabilidade de gravidez espontânea ou após a fertilização in vitro (FIV). Entretanto, a qualidade desta informação ainda é limitada e estes dados precisam ser melhor analisados. Um recente estudo americano realizado por pesquisadores de Harvard demonstrou que uma “dieta pró-fertilidade” esteve associada a melhora na taxa de nascimento de bebê. Esta “dieta pró-inflamatória” era composta pela suplementação de ácido fólico, vitamina B12, vitamina D, produtos orgânicos, grãos inteiros, laticínios, alimentos à base de soja e frutos do mar (ao invés de outros tipos de carnes).

Apesar destas considerações, a American Society for Medicine Reproductive (ASRM) afirmou que ainda não existe uma dieta específica que seja considerada a “dieta da fertilidade”. Entretanto, a ASRM considera que a alimentação é um fator importante relacionado à fertilidade e deve ser avaliada de forma individualizada.

E os exames para avaliar os nutrientes, as vitaminas? É preciso fazer esta dosagem antes de engravidar?

A causa da dificuldade para engravidar é multifatorial, ou seja, diferentes fatores podem interferir no processo reprodutivo, tanto em homens quanto em mulheres. E o nosso equilíbrio nutricional associado a hábitos de vida saudável (redução do consumo excessivo de álcool, cessação do tabagismo, consumo de drogas e prática de atividade física) trazem benefício à fertilidade.

Zinco, cobre, selênio, alumínio, vitaminas D, E e C, coenzima Q10, L-carnitina, resveratrol, ômega 3, ácido fólico, N-acetilcisteína, entre outras, são fatores relacionados a fertilidade do homem e da mulher. Acredita-se que tanto a infertilidade masculina quanto a feminina estejam relacionadas a alteração no metabolismo do oxigênio, o que levaria a aumento dos radicais livres. Como os radicais livres são oxidativos, o excesso destas substâncias estaria associado à redução da fertilidade. E o uso de antioxidantes auxiliaria neste desequilíbrio oxidativo. E é aí que entram as vitaminas!

As vitaminas e alguns nutrientes são considerados antioxidantes e poderiam funcionar como coadjuvantes no tratamento da infertilidade. Teoricamente, a quantidade normal de nutrientes poderia reduzir o tempo para alcançar a gravidez e também diminuir o risco de complicações durante a gestação. Entretanto, a suplementação de nutrientes e vitaminas em casais inférteis ainda não demonstrou benefícios comprovados na taxa de nascimento de bebês. Por isto, as grandes Sociedades de Reprodução Humana do planeta (ASRM, ESHRE, RedLara e SBRA) não recomendam a dosagem rotineira destes nutrientes antes de iniciar o tratamento da infertilidade ou mesmo antes de engravidar espontaneamente.

E para os futuros papais? É importante repor vitaminas e sais minerais?

O uso de vitaminas e minerais pode melhorar a qualidade do espermograma (concentração de espermatozoides e motilidade) e, consequentemente, a taxa de gestação e nascimento de bebês. Entretanto, a validade científica desta informação ainda precisa ser confirmada em pesquisas de qualidade que incluam um grande número de participantes.

Por outro lado, homens que apresentam a fragmentação do DNA espermático alterada poderiam se beneficiar do uso de substâncias antioxidantes. Embora controverso, casos de falha repetida de implantação, abortamento habitual, baixas taxas de fertilização, entre outros fatores, poderiam ter algum benefício na redução da % fragmentação do DNA.  Do ponto de vista prático, vale a pena um bom bate-papo com um especialista em fertilidade para avaliar de forma individualizada caso a caso.

E para as futuras mamães? É importante repor vitaminas e sais minerais?

Como o objetivo de equilibrar o stress oxidativo em mulheres com infertilidade, muito se estudou sobre a reposição de vitaminas e sais minerais para mulheres antes da FIV. Pesquisadores europeus e americanos observaram que a reposição de ácido fólico, vitaminas e alguns minerais pode estar associada a melhora da fertilidade. Entretanto, até o momento não existe uma padronização do tipo, quantidade e tempo de uso dos nutrientes que seriam adequados para melhorar a fertilidade e o resultado da FIV. De forma semelhante à infertilidade masculina, as Sociedades de Reprodução Humana não recomendam o uso rotineiro de suplementação antioxidante como parte do tratamento da infertilidade conjugal.

E para quem está acima do peso? Existe uma dieta específica?

A redução do peso corporal é um dos tratamentos mais efetivos da infertilidade de casais que estão acima do peso. Algumas vezes, a perda de 5-10% do peso já pode restaurar a fertilidade e, consequentemente, o bebê pode chegar de forma espontânea, sem necessidade de tratamento com medicamentos.

Entretanto, é importante um alerta: muita gente “briga com a balança”, faz dieta, atividade física e o peso não muda! Mais importante que avaliar o peso isoladamente, é fundamental verificar se estas mudanças estão promovendo a troca de gordura por massa magra! Esta ressalva foi muito bem documentada em um artigo da Fertility Sterility publicado em 2018, que descreveu que a melhora metabólica em mulheres obesas pode ocorrer sem necessariamente a redução do peso na balança! Por isto, um acompanhamento com nutrólogo e nutricionista podem trazer grande diferencial, alívio e segurança no tratamento da infertilidade.

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Mulheres com síndrome dos ovários policísticos – SOP (distúrbio hormonal associado a menstruações pouco frequentes, infertilidade, obesidade, distúrbios metabólicos, pêlos em excesso pelo corpo, espinhas) é a causa feminina de infertilidade que mais se beneficia da redução do peso corporal como tratamento para engravidar. A recomendação atual da European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE) é que não existe um padrão específico de dieta para redução do peso de mulheres com SOP desde que a dieta seja de baixa calorias (1000-1500 kcal/dia). É importante que a composição alimentar seja flexível, adequada de forma individual e respeite as preferências de cada pessoa.

Para a fertilidade masculina, os benefícios da redução do peso ainda são discutíveis. Por isto, a abordagem dietética para a redução do peso deve seguir o padrão hipocalórico recomendado para a população geral, ou seja, no cenário masculino da infertilidade também não se recomenda dieta específica.

A dieta ocidental típica no Brasil é rica no excesso de calorias com quantidade considerável de alimentos processados/industrializados/embutidos e com alto teor de açúcar e óleo vegetal , o que podem gerar prejuízo reprodutivo, como anovulação crônica, redução da qualidade do óvulo, alteração no espermograma, disfunção sexual, etc. Por isto, este padrão de dieta deve ser desencorajado com o intuito de contribuir para a saúde reprodutiva do futuro papai e mamãe. Abaixo estão alguns alimentos que devem ter sua quantidade reduzida:

  • carnes vermelhas;
  • aves e ovos não orgânicos;
  • embutidos como linguiça, salsicha, presunto, entre outros;
  • laticínios;
  • gorduras saturadas;
  • carboidratos refinados;
  • doces industrializados;
  • alimentos industrializados, enlatados e processados congelados.

Pirâmide nutricional

E a nutricionista? O nutrólogo? Quando é importante consultar um especialista?

Nutrologia é a especialidade médica que atua na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças do metabolismo e do comportamento alimentar. Já o nutricionista é o profissional responsável pela educação alimentar e que orienta uma dieta equilibrada. Deste modo, estes dois grupos em conjunto podem auxiliar no controle do peso e na prevenção/tratamento de doenças como a obesidade, por exemplo.

No contexto da infertilidade, pessoas acima do peso podem se beneficiar da avaliação multiprofissional do nutrólogo e nutricionista. Pessoas com peso normal também podem recorrer a estes profissionais para uma avaliação do comportamento alimentar. Geralmente, as mudanças sugeridas por estes especialistas devem ser avaliadas a médio prazo (pelo menos 3-6 meses). Por isto, é importante discutir cada caso de forma individualizada, principalmente as mulheres com mais de 35 anos ou com baixa reserva ovariana em que o tempo de espera pode prejudicar o potencial reprodutivo.

Enfim: não existe a “dieta milagrosa da fertilidade”! O estilo de vida saudável associado a dieta adequada são fatores importantes para a saúde de um modo geral. A avaliação multiprofissional de um especialista em fertilidade, do nutrólogo, nutricionista, psicólogo e educador físico pode ser um passo importante para os casais que estão na luta contra a infertilidade. Continue acompanhando nosso blog para ler mais conteúdos a respeito da fertilidade!

Referências:

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Karayiannis D, Kontogianni MD, Mendorou C, Mastrominas M, Yiannakouris N. Adherence to the Mediterranean diet and IVF success rate among non-obese women attempting fertility. Hum Reprod. 2018;33(3):494-502.

Norman RJ, Mol BWJ. Successful weight loss interventions before in vitro fertilization: fat chance? Fertil Steril. 2018;110(4):581-586.

Smits RM, Mackenzie-Proctor R, Fleischer K, Showell MG. Antioxidants in fertility: impact on male and female reproductive outcomes. Fertil Steril. 2018;110(4):578-580.

Teede HJ, Misso ML, Costello MF, Dokras A, Laven J, Moran L, Piltonen T, Norman RJ; International PCOS Network. Recommendations from the international evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome. Fertil Steril. 2018;110(3):364-379.

Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine in collaboration with the Society for Reproductive Endocrinology and Infertility. Optimizing natural fertility: a committee opinion. 2017; 107(1): 52-58.

Salas-Huetos A, Bulló M, Salas-Salvadó J. Dietary patterns, foods and nutrients in male fertility parameters and fecundability: a systematic review of observational studies. Hum Reprod Update. 2017;23(4):371-389.

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Prof. Dr. Anderson Sanches de Melo

Médico especialista em Reprodução Humana pelo Hospital das Clínicas da HC FMRP-USP. CRM-SP 104.975
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