Obesidade está associada à infertilidade feminina? Descubra aqui!

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Hipertensão arterial (pressão alta), diabetes, doenças do coração, apneia do sono, problemas respiratórios, alterações articulares, disfunção sexual, depressão, câncer e risco aumentado de morte são situações tradicionalmente mais frequentes em pessoas com obesidade.

Grande parte dessas alterações pode ocorrer durante a idade reprodutiva, e engravidar nesse cenário pode trazer prejuízos para a mãe, a gravidez e também para o bebê. Outras vezes, a obesidade pode tornar longa a jornada para engravidar, e um tratamento de infertilidade pode ser necessário após estratégias adequadas de redução do peso.

O principal obstáculo encontrado pelas mulheres com excesso de peso que planejam a gravidez é a ausência de ovulação, embora a infertilidade em mulheres obesas possa ocorrer em mulheres ovulatórias.

Na maioria das vezes, essas mulheres ficam períodos longos sem menstruar (amenorreia) ou com irregularidade menstrual associada a outros sinais, como acne, pelos em excesso no corpo, queda de cabelo, alterações do metabolismo com tendência ao diabetes, ovários policísticos na ultrassonografia, entre outros.

A consequência é que muitas delas terão infertilidade.

Entretanto, vale lembrar que parte das mulheres com obesidade não terá problemas para engravidar, e a gestação pode ocorrer nos primeiros meses de tentativa. Modificar o estilo de vida (hábitos saudáveis e redução do peso corporal) é o principal tratamento que mulheres obesas precisam fazer para engravidar.

Por sua vez, a tarefa de perder peso pode não ser fácil, na medida em que, mesmo com a adoção de um estilo de vida saudável, a perda de peso pode não acontecer. Isso porque a obesidade pode ser determinada por predisposição genética e o aumento do tecido adiposo pode ocorrer mesmo com a ingestão de quantidades adequadas de calorias diariamente.

Quer entender melhor como o excesso de peso interfere na fertilidade? Continue a leitura e entenda por que a obesidade e a infertilidade podem deixar o sonho da maternidade cada vez mais distante.

Quais são os diferentes graus de obesidade e qual sua relação com a fertilidade?

Segundo o Ministério da Saúde, dados de 2015 demonstram que 51% dos brasileiros estão acima do peso, sendo que 48% das mulheres têm obesidade e metade delas está na fase reprodutiva. Essa verdadeira epidemia pode ser consequência de falta de informação, dietas inadequadas, escassez de atividade física, entre outros. Em pessoas com predisposição genética, isso pode facilitar o ganho de peso.

Para calcular o grau de obesidade, uma fórmula simples é o Índice de Massa Corporal (IMC), parâmetro adotado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. A fim de saber qual é o seu IMC, que também pode ser calculado online, basta dividir o peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.

O resultado considerado ideal deve ficar entre 20 e 25. Quando o valor for abaixo de 20 ou acima de 30, é importante ficar alerta, pois há risco de prejuízo à fertilidade.

Nesse ponto, torna-se pertinente esclarecer que o IMC é um parâmetro simplificado, uma vez que existem diferentes composições corporais. Quem tem maior quantidade de massa magra, por exemplo, tende a ter um IMC maior, mesmo sem apresentar grande quantidade de tecido adiposo.

De qualquer forma, o IMC é a referência mais rápida. Além disso, não depende de tecnologia, pode ser realizado em qualquer lugar onde se possa medir altura e avaliar o peso e é o método mais utilizado na prática clínica (junto com a circunferência da cintura) para estabelecer o grau de obesidade. Em vista disso, temos:

  • ≤ 18,4 kg/m² — abaixo do peso;
  • 18,5 – 24,9 kg/m² — normal;
  • 25,0 e 29,9 kg/m²— sobrepeso;
  • 30,0 e 34,9 kg/m² — obesidade grau I;
  • 35,0 e 39,9 kg/m² — obesidade grau II;
  • ≥40,0 kg/m² — obesidade grau III.

Além de possíveis riscos para a saúde em geral, os extremos do peso corporal (≤18,5 kg/m² e ≥ 30 kg/m²) podem trazer prejuízos sobre a fertilidade e a reprodução, principalmente devido à ausência de ovulação.

Como a obesidade influencia a fertilidade?

A gordura tem enzimas que participam da síntese hormonal do organismo. Normalmente, quando nosso peso é normal, há equilíbrio entre a secreção de estrogênios, androgênios e outros hormônios relacionados com o metabolismo e a fertilidade.

Entretanto, na presença de sobrepeso e obesidade, a enzima aromatase do tecido adiposo é capaz de converter grande quantidade de estrogênios em androgênios, promovendo um desequilíbrio hormonal. Esse processo leva à alteração da secreção de FSH e LH pela glândula hipófise (localizada na cabeça).

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Como os ovários necessitam de estimulação sincronizada dos hormônios hipofisários (FSH e LH), a ovulação pode não ocorrer, dificultando a possibilidade de engravidar. Assim, a obesidade pode levar à infertilidade por desequilíbrio no funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. Esse mecanismo é muito comum em mulheres obesas com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), mas também pode ocorrer independentemente da presença da SOP.

Além das alterações hormonais, estudos envolvendo tratamentos de reprodução humana demonstram que a obesidade está associada à presença de óvulos de menor tamanho, alteração da receptividade do endométrio para implantação e taxa de fertilização reduzida quando comparada com a de mulheres com peso normal. O embrião de mulheres com obesidade pode ter tamanho reduzido, menor número de células, alteração do metabolismo e desenvolvimento mais lento até o estágio de blastocisto.

Apesar dessas considerações, as taxas de nascimento de bebês por ciclo de fertilização in vitro (incluindo a transferência de embriões frescos e congelados) não parece ser menor em mulheres obesas, visto que elas apresentam tendência a ter maior número de óvulos e embriões.

Quais são os riscos da obesidade para a mamãe e para o bebê?

A obesidade é uma doença multifatorial que pode ocorrer após os dois anos de idade em qualquer fase da vida. Por isso, as futuras mamães podem apresentar maior risco para doenças como:

  • hipertensão arterial (pressão alta);
  • diabetes mellitus do tipo 2;
  • apneia do sono;
  • depressão;
  • disfunção sexual;
  • doenças do coração;
  • problemas respiratórios;
  • alterações nas articulações;
  • cálculos biliares (“pedra” na vesícula biliar);
  • Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
  • síndrome metabólica;
  • câncer;
  • alteração do lipidograma (colesterol e triglicérides).

Na gravidez, as mamães podem ter maior risco de:

  • síndrome hipertensiva;
  • ganho excessivo de peso;
  • diabetes gestacional;
  • abortamento;
  • parto prematuro;
  • parto por cesárea;
  • macrossomia fetal (peso fetal estimado a ultrassonografia > 4 kg) ou restrição de crescimento intra-útero;
  • trombose;
  • complicações relacionadas ao parto cirúrgico (infecção e sangramento);
  • dificuldade com a amamentação (pós-parto).

E os bebês maior risco de:

  • prematuridade;
  • ser grande para a idade gestacional;
  • morte no período neonatal;
  • internação em UTI;
  • anomalias congênitas — alterações do tubo neural (meningomielocele, por exemplo), defeitos cardíacos, lábio leporino ou defeitos do palato, atresia anorretal, hidrocefalia, alterações dos membros, entre outras;
  • obesidade na infância;
  • puberdade precoce;
  • distúrbios do metabolismo da glicose com tendência ao diabetes.

A obesidade interfere no resultado do tratamento da infertilidade?

Como já mencionado, a modificação do estilo de vida para redução do peso corporal é a medida mais eficaz para restaurar a fertilidade e diminuir complicações na gravidez, tanto para a mãe quanto para o bebê. O objetivo inicial é a perda de 5-10% do peso atual durante 6 meses.

Além de restrição calórica e atividade física, a composição da dieta pode ser um grande aliado na redução do IMC. Por isso, é importante consultar um especialista em reprodução humana que solicitará auxílio à equipe multiprofissional composta por psicólogo, educador físico, nutricionista, entre outros.

Apesar da importância da perda de peso para a saúde geral do nosso corpo, a redução do IMC pode não estar associada à melhora nos resultados da FIV e de outros tratamentos para engravidar. Pesquisadores europeus observaram que programas intensivos para redução do peso promovem diminuição do IMC de mulheres inférteis, mas essa atividade não esteve associada a maior taxa de nascimento de bebês pós-FIV. Essa novidade representa um grande avanço para o tratamento da infertilidade de mulheres obesas.

Muitas sociedades científicas internacionais recomendam a perda de peso antes de iniciar qualquer tratamento para engravidar, porém essa conduta não tem embasamento científico confiável para ser realizada de rotina na prática clínica.

Em 2018, autores australianos publicaram, na renomada revista científica Fertility & Sterility, que a FIV pode ser realizada com segurança em mulheres obesas que realizaram adequação dos hábitos de vida, mas não tiveram redução do peso corporal. Isso porque, nesses casos, pode ocorrer mudança da composição corporal com redução de complicações na gravidez, como hipertensão e prematuridade, além da melhora metabólica materna e para o bebê.

Nesse sentido, esse estudo também é um verdadeiro avanço e traz esperança para muitas mulheres obesas com hábitos saudáveis que brigam com a balança todos os dias e postergam o sonho de serem mães.

Por outro lado, dependendo do grau de obesidade, a cirurgia bariátrica pode ser realizada como tratamento de possíveis complicações metabólicas, cardiovasculares e reprodutivas. Sociedades internacionais e também a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) sugerem a realização da cirurgia bariátrica em mulheres com SOP que apresentam IMC ≥ 35 kg/m².

Contudo, qualquer tratamento para engravidar deve ser realizado após 12 meses da cirurgia. Essa conduta pode auxiliar na restauração da ovulação e aumentar as chances de gestação espontânea.

Relevância da prática de atividade física

A atividade física é um importante aliado na perda de peso. Para tanto, vale a pena procurar uma atividade com a qual você se identifique. Muitas pessoas não gostam do ambiente de academias, mas sentem-se bem em caminhadas ao ar livre, por exemplo. Outras preferem ter a orientação de um profissional ao lado, além da motivação de outras pessoas que frequentam as aulas de ginástica.

Encontrar algo que dê prazer (dançar, nadar, andar de bicicleta, entre outros) é a melhor opção para não desistir da atividade física. Isso também faz diferença para o aspecto emocional, pois, muitas vezes, a pessoa sente-se ansiosa e desestimulada ao começar uma reeducação alimentar e deparar-se com privações/restrições.

Assim, iniciar uma atividade que promova maior bem-estar é um dos elementos que oferece maior adesão ao processo de emagrecimento.

Nosso artigo ajudou a esclarecer suas dúvidas sobre a interferência da obesidade na sua fertilidade? Continue em nosso blog e saiba mais sobre fertilidade, tratamentos e alimentação para uma gestação saudável.

Referências:
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Prof. Dr. Anderson Sanches de Melo

Médico especialista em Reprodução Humana pelo Hospital das Clínicas da HC FMRP-USP. CRM-SP 104.975
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