A síndrome da hiperestimulação ovariana (SHO) está associada ao uso de medicações para a indução da ovulação, muito comum nos tratamentos para engravidar.
Por ser um dos principais riscos das técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro e a inseminação intrauterina, é natural que haja um temor em torno do assunto. No entanto, não há motivo para alarde, já que a síndrome ocorre com pouca frequência e é passível de controle e tratamento.
Quer saber mais sobre a SHO, suas causas, sintomas e tratamento? Não deixe de ler este texto!
Trata-se de uma complicação em virtude de um processo de estimulação ovariana controlada (EOC). Caracteriza-se pela resposta exagerada dos ovários aos hormônios, utilizados para estimular a ovulação em tratamentos de reprodução humana.
Embora seja rara, ocorrendo entre 1 a 5% dos casos, a SHO pode levar a complicações mais sérias e por isso merece atenção.
Fisiologicamente, ela acontece devido à ação da gonadotrofina coriônica humana (hCG), que provoca a secreção de substâncias que dilatam os vasos sanguíneos, deixando-os extremamente permeáveis. Dessa forma, o líquido extravasa, podendo se acumular no abdome, pulmões e outros órgãos, causando desconforto e outros sintomas.
É o nome dado quando a síndrome decorre da ação do hCG exógeno (vem de fora do corpo) — medicamentos utilizados na maturação oocitária, no final da EOC. Dessa forma, costuma ser percebido no período próximo à coleta dos óvulos.
Costuma ser mais leve e durar cerca de uma semana no máximo, tempo de ação da medicação no organismo. Tende a melhorar quando ocorre a menstruação após a coleta, o que significa que houve redução dos níveis de hormônios.
Nesse caso, os sintomas ocorrem em função do hCG produzido pelo próprio corpo, quando a paciente engravida (produção de βhCG). Por isso, o diagnóstico é feito já nas primeiras semanas de gestação.
O quadro clínico decorrente da síndrome da hiperestimulação ovariana pode se apresentar de três formas: leve, moderada e grave. A maioria dos casos está entre a forma leve e moderada, costuma ser transitório, sem que haja necessidade de internação.
Já a forma grave, ainda que rara, pode exigir internação para hidratação e acompanhamento clínico/hematológico. Em alguns casos, pode ser necessário um procedimento de drenagem do excesso de líquido da cavidade abdominal.
Os sintomas mais comuns são:
O diagnóstico pode ser feito precocemente, pela análise do número e tamanho dos folículos na ultrassonografia, ou pela observação dos sintomas e quadro clínico.
Normalmente, a SHO tem sintomas leves a moderados, como descrito acima, e na maior parte dos casos a resolução é rápida, com medidas simples. As complicações são devidas às formas mais graves, que ocorrem muito raramente. As principais são complicações respiratórias, renais e vasculares, que podem ocasionar outras doenças, tais como:
Em casos gravíssimos, tais complicações podem levar ao óbito. No entanto, estima-se que aconteça em 1 a cada 100.000 procedimentos. Além disso, a SHO tem tratamento e existe uma série de medidas preventivas a serem adotadas nos casos de risco.
De maneira geral, o acompanhamento da SHO envolve anamnese e exame físico completo —aferição do peso e sinais de complicações. Exames complementares, como a ultrassonografia e hemograma, podem ser realizados.
O tratamento consiste no alívio dos sintomas e prevenção das possíveis complicações, medidas mais específicas variam conforme o grau.
É recomendado repouso, inclusive sexual, para evitar o risco de gravidez. Além disso, a paciente deverá se manter hidratada, cerca de no mínimo 2 litros de água por dia. Fora isso, os sintomas podem ser tratados com analgésicos, medicação antiemética (para náuseas) e que auxiliem a função gastrointestinal.
Em alguns casos é necessária punção para retirada do fluido abdominal. De maneira geral, é essencial realizar um acompanhamento com equipe habituada a lidar com esses casos, visando minimizar a evolução do quadro para formas mais severas.
Além das medidas já citadas, é importante realizar um acompanhamento ambulatorial mais efetivo, com controle do peso, avaliação ultrassonográfica e pelos exames — hemograma, avaliação da função renal e eletrólitos. Caso haja desequilíbrio hidroeletrolítico (alterações vistas em alguns exames de sangue), será indicada correção de acordo com a gravidade do caso.
Pacientes grávidas precisam ser seguidas ainda mais de perto, pois enquanto as pacientes com hiperestímulo precoce apresentarão queda mais rápida dos níveis de hCG e melhora dos sintomas, as gestantes apresentarão aumento constante deste hormônio, o que é esperado na gestação. Deve-se procurar diagnosticar a gravidez precocemente por meio de exame de sangue.
Nesse caso, é indicada a internação, hidratação com soro e acompanhamento laboratorial frequente. Normalmente, não é preciso monitorização em unidade intensiva.
Como o ovário nestes casos apresenta-se muito maior que o habitual, ele tem mais risco de torcer em volta do próprio eixo (torção anexial), quando isto ocorre é necessário procedimento cirúrgico, que pode tentar “destorcer” o ovário; em último caso, pode ser necessária sua retirada.
Ainda que rara, a síndrome da hiperestimulação ovariana é uma grande preocupação para as clínicas de reprodução assistida, por isso, é necessário tentar evitar o problema por meio de diversas medidas preventivas.
Com base em alguma características, é possível determinar quais mulheres estão mais propensas a desenvolver a síndrome. São fatores de risco:
Dessa maneira, no CEFERP são tomados cuidados — antes e durante a EOC — para prevenção e controle dos casos, evitando maiores consequências:
Ao contrário do que se imagina, nos casos de hiperestimulação não há perda do ciclo. Pacientes que apresentem critérios de risco antes ou durante a indução passam normalmente pela coleta de óvulos, porém, esses são congelados ou, quando fertilizados, congelam-se os embriões formados, sendo a transferência feita apenas no ciclo subsequente.
Esta medida ocorre para evitar a produção interna de hCG durante a gravidez, o que agravaria o quadro de SHO. Também é importante adiar a transferência porque, nestes casos, o medicamento utilizado no final da estimulação ovariana — agonista do GnRH — pode ter efeitos negativos no endométrio, o que pode atrapalhar a implantação do embrião.
Então, apesar de ser necessário aguardar um pouco mais para a tão esperada transferência dos embriões, essa espera possibilita maior segurança no tratamento e melhores chances de sucesso na implantação e evolução da gravidez, devido à paciente não estar sob efeito dos altos níveis de hormônios.
A interrupção do ciclo só é necessária quando todas as outras medidas já se esgotaram e os riscos permanecem altos, o que dificilmente acontece com as opções de medicações e monitorização nos dias de hoje.
Como vimos, a síndrome da hiperestimulação ovariana pode gerar algumas complicações. Entretanto, o desenvolvimento do quadro pode ser evitado a partir de medidas de prevenção e controle em pacientes de risco, ou minimizado, uma vez que tenha se manifestado, evitando complicações mais graves. O mais importante para que tudo isso ocorra é que cada caso seja visto e tratado como único, respeitando-se suas peculiaridades.
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