A vacinação contra a COVID-19 está avançando em todo o mundo. No estado de São Paulo, a previsão é que a população acima de 18 anos deva receber a primeira dose até o final de setembro. A perspectiva de ser vacinado traz otimismo, mas ao mesmo tempo gera dúvidas, principalmente para as tentantes e também para as gestantes.
“Me programei para o início da minha fertilização in vitro (FIV), posso me vacinar?”. “Postergo o início do meu tratamento?”. “Já recebi a vacina, posso prosseguir com o tratamento?”. “Consegui meu tão sonhado positivo e estou grávida, devo tomar a vacina?”. “Tomei a primeira dose, devo esperar para transferir os embriões?”. Esses são alguns dos questionamentos que recebemos aqui no CEFERP.
Antes de abordarmos alguns esclarecimentos, é importante frisar que por ser um assunto relativamente recente, existem vários posicionamentos que podem diferir em alguns pontos diante do assunto, e nenhuma fonte de informação substitui a avaliação individualizada do caso, considerando todas as variáveis e a tomada de decisão pelo médico em conjunto com a paciente.
Para te ajudar a entender um pouco mais sobre as recomendações, ou ainda qual a relação entre o tratamento e a vacinação, preparamos este post com as principais dúvidas. Confira!
No início de fevereiro de 2021, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), em conjunto com a Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida (REDLARA) e diversas outras instituições em reprodução humana publicaram um posicionamento conjunto para auxiliar nesta e outras discussões. O texto segue em concordância com as principais outras fontes citadas neste artigo. Um fator importante pontuado pela nota é o de que “a vacinação tem efetividade e não induz a risco aumentado de contrair a infecção por Covid-19. Embora ainda não haja estudos humanos de longo prazo sobre a vacinação contra Covid-19 e gravidez, nenhuma das vacinas contém vírus SARS-CoV-2 vivo”. Gestantes vacinadas ao redor do mundo tem comprovado a eficiência e necessidade da vacina neste grupo.
Sendo assim, a nota orienta que para indivíduos que apresentem alto risco de infecção ou morbidade pelo Covid-19 (grupo no qual encontram-se as grávidas), não receber a vacina supera o risco da vacinação, previamente ou durante a gravidez.
No Brasil, desde março de 2021, as gestantes vem sendo incluídas nos grupos prioritários para vacinação contra o Covid. Em abril de 2021, o Ministério da Saúde publicou uma nota recomendando a inclusão de todas as gestantes e puérperas (mulheres no período pós parto) neste grupo. Já em junho do mesmo ano, a ANVISA e o Programa Nacional de Imunizações orientaram interromper temporariamente o uso da vacina AstraZeneca-Oxford/Fiocruz em gestantes e puérperas, devido à notificação de um caso de trombose com possível associação causal com a vacina, no Rio de Janeiro. Porém, devido à importância da manutenção da imunização deste grupo, e também por conta do aumento da mortalidade materna por Covid-19, a SOGESP (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) emitiu uma nota recomendando a vacinação de todas as gestantes de São Paulo, com as vacinas Coronavac ou Pfizer, recomendação também feita pela FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia).
A Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (European Society of Human Reproduction and Embryology – ESHRE) publicou um guideline em janeiro de 2021 com algumas recomendações específicas sobre a vacinação e tratamentos de reprodução assistida. Uma das considerações é a de que faltam informações sobre o possível efeito da vacina contra a COVID-19 em pessoas que estão passando por tratamentos ou programando uma gestação futura.
Dessa forma, não é possível fazer recomendações únicas sobre se os homens e mulheres que tentam engravidar por meio de tratamentos de reprodução assistida devem ou não receber a vacina antes de iniciarem o tratamento em si.
O que a ESHRE recomenda é que os casos sejam avaliados individualmente pelo médico. Para mulheres com comorbidades que as colocam em maior risco ao contrair COVID-19 e / ou gravidez com complicações, a instituição afirma que deve se considerar o incentivo à vacinação antes de tentar a concepção. O mesmo se aplica a mulheres nas quais o risco de exposição à infecção pelo vírus é alto e não pode ser evitado. Estas recomendações também estão de acordo com a última nota publicada pela SBRA, que orienta a decisão compartilhada entre paciente e médico quanto a receber as vacinas.
A Sociedade Americana para a Medicina Reprodutiva (American Society for Reproductive Medicine – ASRM) também organizou um “comitê” (Task force) para informação quanto aos impactos do Coronavírus nas pacientes e tratamentos de reprodução humana. Um dos assuntos abordados foi a respeito da imunização contra o Coronavírus. Sobre o assunto, a ASRM publicou um documento, que vem sendo constantemente atualizado. A última atualização até o momento foi de 18 de janeiro de 2021. Neste guideline, a ASRM menciona que “a vacinação contra a COVID-19 é recomendada para mulheres contemplando gestação”. Ainda segundo o documento, os benefícios conhecidos e potenciais das vacinas ultrapassam os riscos potenciais e conhecidos.
Importante frisar uma informação fundamental, que também é abordada nas atualizações fornecidas pela ASRM, que é a recomendação de se levar em consideração a transmissão local da COVID-19 e o risco de a paciente ser infectada pelo vírus, os riscos da doença para a paciente e também os potenciais riscos para o feto, além de entender a eficácia da vacina disponível e os efeitos colaterais conhecidos. Ou seja, devemos tomar cuidado na interpretação dos diversos dados, pois fatores epidemiológicos precisam ser levados em consideração, bem como as vacinas disponíveis.
A ESHRE recomenda ser prudente adiar o início dos tratamentos de reprodução assistida por pelo menos alguns dias após a conclusão da vacinação, ou seja, após a segunda dose, para permitir que a resposta da pessoa imune se estabeleça.
Como não há ainda informações sobre o efeito da vacina nos óvulos, espermatozoides, na implantação de embriões e nos estágios iniciais da gravidez, a abordagem mais cautelosa considerada pela ESHRE seria a de adiar o início do tratamento de reprodução humana desde alguns dias a até dois meses. Porém, isso deve ser avaliado pelo médico, de acordo com a individualidade de cada caso.
Em documentos anteriores, a ESHRE já havia afirmado que pacientes grávidas infectadas pela COVID-19 estão em um maior risco de complicações do que as mulheres não grávidas.
Entretanto, como a segurança das vacinas contra a COVID-19 na gravidez humana não foi avaliada até o momento, a instituição recomenda que a decisão de uso da vacina em mulheres grávidas deve ser feita em consulta com o médico após considerar benefícios e riscos individuais.
A instituição afirma que “mulheres grávidas devem ser informadas sobre a falta de estudos humanos de longo prazo sobre a vacinação contra a COVID-19, mas não devem ser excluídas dos programas de vacinação”.
No Brasil, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) emitiu uma recomendação em que afirma que “para as gestantes e lactantes pertencentes ao grupo de risco, a vacinação poderá ser realizada após avaliação dos riscos e benefícios em decisão compartilhada entre a mulher e seu médico”.
Em 26 de Julho de 2021 o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica sobre a possibilidade de intercambialidade das vacinas contra o Covid-19 nos casos em que não é possível manter o mesmo agente imunizante nas duas aplicações. A nota enfatiza a importância da vacinação com o esquema completo de doses.
A indicação contida no documento é de realizar a segunda dose, preferencialmente, com a Pfizer, por possuir mais estudos no momento. Porém, caso não seja possível a aplicação desta, deve-se discutir a utilização da Coronavac como segunda dose.
Ficou com alguma dúvida sobre a vacinação contra a COVID-19 em tentantes e mulheres grávidas? Deixe sua pergunta abaixo, nos comentários.
Ver comentários
Tentantes podem tomar astrazênica? Existe algum risco de má formação para o bebê?
Olá Priscila, obrigado pelo seu comentário!
Não existem evidências de malformações, mas a AstraZeneca e a Janssen não são recomendadas na gestação por risco de trombose. Teoricamente, no período de tentativas, poderia ser usada qualquer vacina, mas é importante checar com a equipe que a acompanha também.
Atenciosamente,
Equipe CEFERP - Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto