Um casal é considerado infértil quando não consegue engravidar após 12 meses de tentativas, sem o uso de nenhum método anticoncepcional. Nesses casos, a infertilidade pode ser causada por fatores masculinos, femininos ou de ambos, ou ainda ser caracterizada como infertilidade sem causa aparente, quando os exames de fertilidade não mostram alterações.
Entre os fatores femininos, pode-se destacar as doenças que causam alterações da parede uterina interna, de forma a impedir que o óvulo fecundado realize a nidação (fixação do zigoto no endométrio).
No texto de hoje, falaremos sobre uma dessas doenças — a adenomiose — e explicaremos a relação entre ela e a infertilidade feminina. Acompanhe!
O que é adenomiose?
O endométrio é o tecido que reveste a parede interna do útero e é formado por células epiteliais cilíndricas, estromas e vasos sanguíneos. A adenomiose é caracterizada pela presença de estroma e glândulas endometriais no tecido do miométrio (músculo liso que reveste o útero), o que causa hipertrofia e hiperplasia das áreas adjacentes do miométrio.
A invasão do tecido endometrial para o miométrio acontece quando há uma descontinuidade da fronteira entre a camada basal do endométrio e o miométrio. A doença pode se manifestar por pequenas ilhas de invasão isoladas até uma extensa infiltração das paredes do útero.
É classificada em superficial, intermediária ou profunda, de acordo com as camadas de músculos que são afetadas.
A diferença entre adenomiose e a endometriose é que a segunda é caracterizada pela presença de tecido do endométrio em locais fora do útero, mas as duas condições podem estar associadas. Devido às semelhanças das duas condições, alguns autores definem a adenomiose como um tipo de endometriose.
As alterações na parede uterina causadas pela doença levam à inflamação local, com piora no período menstrual.
Quais as causas da adenomiose?
Os mecanismos de causa e desenvolvimento da doença ainda não são completamente esclarecidos pelos especialistas, porém, há algumas teorias relacionadas ao tema. Primeiramente, é notada que a chance de seu aparecimento aumenta com o avançar da idade.
A principal teoria aponta que a doença se manifesta após surgirem pequenas roturas na zona juncional, localizada entre endométrio e miométrio. Essas roturas permitiriam a invasão das células endometriais no tecido do miométrio, e podem surgir após a contração natural do útero, que ocorre durante o período menstrual.
Alguns especialistas acreditam que o problema é congênito, isto é, está presente desde o nascimento e acontece devido a uma malformação uterina durante o período embrionário. Em outros casos, o problema poderia ser adquirido durante a vida, por exemplo, após a incisão cirúrgica da cesariana, que leva células do endométrio para o miométrio.
Os fatores de risco já definidos para o surgimento da adenomiose são:
- obesidade;
- início precoce dos ciclos menstruais (menarca);
- aborto espontâneo;
- endometriose;
- menorragia (sangramento vaginal aumentado);
- diagnóstico de infertilidade;
- curetagem após aborto;
- parto prematuro;
- ciclos menstruais curtos;
- realização de mais de uma cesárea;
- hiperplasia endometrial.
Quais os sintomas da adenomiose?
A adenomiose pode ser assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. Quando presentes, os sintomas mais comuns incluem dismenorreia (cólica menstrual) e hemorragia uterina anormal, com ciclos menstruais irregulares e com fluxos alterados, porém, são sintomas inespecíficos, relacionados também com outras condições ginecológicas.
Outros sintomas que podem estar presentes incluem:
- dor abdominal;
- inchaço na barriga;
- dor durante a relação sexual (dispareunia);
- aumento do fluxo menstrual;
- sintomas compressivos em bexiga ou intestino (constipação, dificuldade de evacuar, dor ao evacuar);
- abortos;
- complicações durante a gravidez;
- infertilidade.
Como é feito o diagnóstico?
Como os sintomas da doença não são específicos, o diagnóstico deve ser feito por um médico especialista por meio da entrevista, do exame físico, da avaliação e de laudos de exames de imagem do sistema reprodutor feminino. No exame de toque realizado na consulta ginecológica, pode ser percebido um útero aumentado.
De acordo com os achados nos exames de imagem, a adenomiose é classificada em 4 estágios:
- estágio I: a doença está limitada à região subendometrial;
- estágio II: a doença está espalhada pelo miométrio;
- estágio III: a doença está avançada além do miométrio e alcança a serosa (membrana que reveste o útero externamente);
- estágio IV: a doença está avançada além da serosa e atinge outros tecidos e órgãos.
Os principais exames utilizados para o diagnóstico de adenomiose são a ultrassonografia e a ressonância magnética.
A ultrassonografia permite a visualização de espaços císticos no miométrio e espessamento da parede posterior do útero, que são achados sugestivos da doença. A ressonância magnética tem maior sensibilidade para o diagnóstico da condição, permitindo a delimitação do local e da extensão da doença.
A adenomiose pode causar infertilidade?
São necessários mais estudos para o entendimento da relação entre adenomiose e infertilidade, porém, de forma geral, pode-se dizer que a doença tem um impacto negativo sobre a fertilidade da mulher. A dificuldade de engravidar aumenta com a piora da condição nos estágios mais avançados, pois as alterações causadas na parede interna do útero impedem a fixação do embrião.
O endométrio alterado causa abortos espontâneos ou falhas na implantação do embrião.
Há ainda teorias que dizem que as alterações presentes na zona juncional do endométrio com miométrio podem interferir no transporte de espermatozoides dentro do útero ou ainda prejudicar a sua vascularização.
Além de dificultar o encontro dos zigotos e a implantação do embrião na parede uterina, a doença está também relacionada a complicações na gestação, como mencionado. Ela pode provocar abortos espontâneos no primeiro trimestre, impedindo a manutenção da gravidez.
Qual o tratamento para adenomiose?
O tratamento da adenomiose tem o objetivo de minimizar os sintomas da doença e principalmente, possibilitar a gravidez para a mulher que deseja engravidar. O uso de técnicas de reprodução assistida juntamente a um tratamento medicamentoso prévio é a forma mais utilizada de tratamento. Em casos especiais, pode ser indicada a cirurgia para retirada das áreas do útero afetadas.
Os medicamentos utilizados têm a intenção de fazer a regulação hormonal e eliminar os sintomas. Alguns deles são:
- medicamentos análogos ao hormônio GnRH: o hormônio GnRH é o que provoca a liberação de FSH e LH no corpo, que estão envolvidos com a ovulação;
- medicamentos que causam atrofia endometrial momentânea: impedem o crescimento do tecido do endométrio dentro do miométrio;
- pílulas anticoncepcionais usadas antes do momento da gravidez: fazem a regulação hormonal.
O uso de análogos do GnRH antes da realização de técnicas de reprodução assistida aumenta a chance da ocorrência da gravidez após o tratamento.
A técnica utilizada para mulheres com adenomiose é a fertilização in vitro, realizada em 3 etapas:
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etapa 1
estimulação dos ovários com medicações específicas, fertilização, em laboratório, do óvulo, espermatozoide coletado e vitrificação dos oócitos ou embriões;
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etapa 2
tratamento da adenomiose com os medicamentos citados;
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etapa 3
transferência dos embriões para o útero.
Após a transferência dos embriões, a mulher deve ser acompanhada de forma rigorosa pelo médico especialista, para garantia de que foi possível a implantação do embrião na parede interna uterina.
Há relação entre adenomiose e infertilidade, portanto, as mulheres que apresentam a doença e desejam engravidar devem procurar o médico especialista em reprodução humana para realizar um tratamento e um acompanhamento precoce.
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